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TEXTOS INTERESSANTES
     

 

COMO DESTRUIR UM MC

AS 13 REGRAS DE UM MAU ASSOCIADO DE MC

1. O EDITORIAL do “Jornal MotoClube News” (Ano 6 – nº 68 – Dezembro de 2005), edição de dezembro de 2.005 , traz as considerações do Editor Responsável : Reinaldo de Carvalho Bueno (O Carvalho) , no respeitante ao tema anunciado . Eis o seu teor :

2. “Caros leitores , este é o último editorial do ano de 2005 e com ele pretendo passar a vocês uma mensagem que, excepcionalmente , não foi escrita por mim , mas que espelha uma verdade . Procurei saber quem foi o autor que a escreveu e a divulgou na “net” , em vão , mas que ele saiba que admirei o texto , por isso o copio , com algumas pequenas modificações . Todos sabemos que quem dirige um moto clube , sofre todo tipo de crítica e muito pouca ajuda para manter o clube funcionando , à exceção daqueles clubes cujo regime de administração e de disciplina , chega á beira do militarismo .

3. Então , nada mais justo que indicar os caminhos para que um associado de moto clube se torne um péssimo exemplo e um não melhor companheiro e integrante . Então vamos lá :

1ª) Não participe de viagens ou quaisquer atividades realizadas pelo MC ;

2ª) Não freqüente o clube , mas quando comparecer á sede , procure algo para reclamar ;

3ª) Se comparecer a qualquer atividade , encontre apenas falhas no trabalho dos outros ;

4ª) Nunca aceite uma atividade , lembre-se que é mais fácil criticar do que receber as críticas da realização ;

5ª) Se a diretoria pedir sua opinião , responda que não tem opinião formada e depois , espalhe como as coisas deveriam ser ;

6ª) Não faça nada além do inevitável , e quando os diretores e colaboradores estiverem trabalhando , afirme que seu clube está dominado por uma panelinha ;

7ª) Não leia os informativos e correspondências do clube , mas afirme sempre que elas não trazem nada de interessante , ou melhor ainda , diga que não os recebe e que se sente excluído do grupo ;

8ª) Se for convidado para qualquer cargo , recuse , alegue falta de tempo e depois critique tudo que for feito pela “turminha” que só quer ficar no poder ;

9ª) Quando tiver divergências com a diretoria , procure vingar-se no clube ;

10ª) Sugira , insista e cobre realizações de festas e eventos e quando ocorrerem , não ajude e não apareça , para depois ficar espalhando que seu clube não tem prestígio porque ninguém foi e se teve gende na festa , espalhe que a diretoria está ficando rica com a festa ;

11ª) Se receber pedidos de sugestões ou colaborações , não responda e se a diretoria não adivinhar suas idéias , critique e diga a todos que você foi ignorado .

12ª) Procure saber todas as burradas feitas pelos integrantes do seu clube em viagens ou na sede , só para , depois , espalhar para todo mundo , inclusive para as esposas ;

13ª) Depois de tudo isso , quando cessarem as publicações , as atividades pararem , as instalações estiverem desmoronando , seu clube não for visto em lugar algum e todos se afastarem , enfim , quando seu clube morrer , estufe o peito e afirme orgulhoso : EU NÃO DISSE ?

4. Bem , depois de dito tudo isso , quem sabe os maus associados , dos vários clubes espalhados por este iumenso Brasilsão , percebam suas faltas de qualidade , se “emendem” ou simplesmente saiam do moto clube e vão criar galinhas , porque para ser integrande de MC tem que ser gente grande . Tá dito . (Palavras do Carvalho)

 

GARUPA, OU CO-PILOTO?

Hoje, quero falar da categoria mais injustiçada no motociclismo:

O GARUPA, que eu aqui vou preferir chamar de PASSAGEIRO.

Vou começar falando da experiência viajando junto com minha mulher como passageira centenas de milhares de km.

Eu, pilotando a moto e ela ali, fiel, coladinha em mim, acreditando e confiando em tudo o que eu faço durante horas e horas em muitos horizontes.

Foi sempre assim? Ela nasceu sabendo o que fazer em cima de uma moto ?

A coisa é simplesmente terminar de arrumar a bagagem e as valises, colocar tudo na moto e, no espaço que sobrar, você coloca a sua passageira?
(Aliás, tem muitos que ainda instalam uma mochila enorme nas costas da pobre parceira...)

Nada disso. Stop. Vamos retomar o assunto.
Quanto tempo nos últimos anos você gastou com sua passageira para explicar como funciona o princípio da motocicleta?

Lembro de um amigo que, vendo com admiração nossas viagens, minha mulher e eu ali, juntos, enfrentando as fronteiras desse mundo, me disse:

Ah, você é tem sorte, minha mulher não quer mais nem saber da moto....
E eu pergunto: E você tentou fazer com que ela goste?
Claro! Levei ela comigo de Sampa a Campos do Jordão em um domingo na minha DUCATI Monster super esportiva.
Foram somente 400 km, ida e volta e chovia um pouco....
Ela tinha bom equipamento?
Bem, uma jaqueta de nylon e bons tênis Nike, sem luvas.

Seguramente ela voltou cansadíssima, irritada, molhada e gelada.
Nunca mais. Ele perdeu ali a parceira para a moto.

Essa história caricatural é um pouco o que acontece com muitos motociclistas que colocam suas parceiras em uma moto pela primeira vez, como se coloca alguém que vai fazer Paraglider começando pela Pedra da Gávea....

Com minha mulher, pelo simples fato de que ela não sabe nem andar de bicicleta, inciamos muito suavemente a fazer passeios de 1h, passeios de uma tarde, de um fim de semana e, quando ela mal percebeu, estava indo comigo da França até a Rússia, 8500 km!

Um pouco como a história do Paraglider, você começa baixinho e, quando percebe, já está saltando do topo de uma montanha.

Acredito que sua garupa pode ser muito mais do que outra peça de bagagem: Ela pode ser seu co-piloto.

Quando a gente viaja, vai vendo passar aqueles inúmeros quilômetros com relativa facilidade. Estamos ocupados pilotando a moto, verificando o computador de bordo, brincando com o GPS, calculando quantos kms faltam para a próxima pausa, etc.
Enquanto isso, nossa parceira faz o que? Não faz nada.

Fica ali, olhando a paisagem, se houver uma e se ela tiver altura suficiente para poder ver por sobre o seu ombro e pensando o que ela está realmente fazendo ali... Fidelidade, meu caro, tem limite.

Foi aí que minha mulher e eu começamos a desenvolver idéias para que a viagem de moto tenha para ela a mesma dimensão que tem para mim.

Vamos ver se eu consigo enumerar algumas dessas técnicas, se é que podemos chamá-las assim:

Intercomunicador nos capacetes – Importante poder conversar. Esse negócio de sua parceira ter que te dar um “cascudo” no capacete para te dizer que quer parar para fazer xixi é muito tosco. Não serve em uma viagem de várias semanas.

Além do mais, você aproveita a estrada para levar aquelas conversas longas e colocar em dia um monte de “probleminhas” do casal.

Lembre-se que ela não vai poder abandonar a conversa pois vocês estão a mais de 100 km/h na estrada. (a Daehr, alemã fabrica um equipamento muito bom, fácil de instalar em qualquer capacete. O meu, ainda é por cabo, com cada um de nós conectados na moto).

Equipamento pessoal – Ela tem que ser o mesmo equipamento seu. No nosso caso, minha mulher e eu usamos o mesmo material e variamos a cor. Assim, quando chover, fizer frio, calor, neve, poeira, vento, etc. O que você sofrer, ela sofre (ou não) da mesma forma. Se você estiver bem protegido, ela o estará também.

No meu caso, como uso a Jaqueta Rallye Pro 3 da BMW, tenho um grande bolso nas costas que minha mulher usa como depósito para colírio, batom, mentas, chocolate, creme hidratante e todas essas coisas absolutamente essenciais que as mulheres insistem em levar com elas. (Deixe ela levar, você nunca sabe quando vai bater aquela abelha no seu olho e você vai precisar daquele colírio esperto que ela carrega...)

Vigilância na estrada – Minha mulher comparte comigo o espelho retrovisor esquerdo. Faço a regulagem do espelho de forma a que nós dois possamos ver o que nos segue ou o que tenta nos ultrapassar. Combinamos que uma leve pressão de sua mão na minha cintura indica que estamos sendo ultrapassados ou que vem um carro, pela direita, ou pela esquerda segundo o lado da pressão. Várias vezes ela me tirou do aperto pois, está claro que quatro olhos vem muito melhor do que apenas dois.

Fotos – A maior parte de nossas viagens se passa em pequenas estradas do interior. Assim, temos tempo de apreciar a paisagem e estamos todo o tempo comentando o que vemos e o que está acontecendo ao nosso redor.

Uma das atividades que minha mulher mais gosta enquanto rodamos por esse mundão é a de fotografar a paisagem. No final do dia, revisamos as fotos e apagamos aquelas que não servem. Mesmo assim, muitas fotos registram lugares que passamos e que não tínhamos percebido sua beleza.

Navegação e Planejamento – Planeje com ela as etapas. Nossa parceira pode ajudar enormemente na navegação. Você pode colocar, aplicado com velcro, um porta-mapas nas costas de seu blusão e sua parceira pode ajudá-lo a localizar-se. Esta ajuda é muito bem vinda mesmo quando você tem um GPS instalado.

Bagagem – Comparta a organização da bagagem. Mulheres são em geral mais organizadas do que nós. Proximamente escreverei sobre a viagem a dois e a bagagem.

Abastecimento e pagamento - Um abastece, o outro vai pagar o posto de gasolina, etc.

Pausas de descanso – Veja com ela qual o limite do conforto das etapas entre pausas de descanso. Em solo, você pode fazer 3 ou 4 horas sem parar, a dois, você deve ser muito mais freqüente. Acostume-se a parar a cada 1:30 h com 15 minutos apenas de pausa. A viagem vai render muito mais.

As idéias acima são apenas algumas sugestões para fazer de sua viagem com sua parceira uma atividade em equipe. Com isso, você terá em sua passageira alguém muito mais disposto a enfrentar os desconfortos de uma viagem de moto.

Ela será parte da viagem e o prazer será muito mais do que o dobro.

Lembre-se: Se ela estiver descontente, sua viagem vai ficar muito mais longa e nem um pouco divertida... A moto é um espaço demasiado pequeno para desentendimentos.

Depois destes comentários, deixe-me lembrá-los que para nós motociclistas, rodar em moto é algo praticamente evidente e óbvio. Estamos fazendo isso há anos e temos a experiência para chegar onde chegamos.

Se você convidar alguém para viajar junto que não está habituado à motocicleta, lembre-se de tomar seu tempo para lhe explicar as suas regras de segurança, cada um tem as suas. Explique a ele/ela quando e como subir e descer da moto, como se comportar em caso de aceleração, de frenagem, em curva, com a moto parada, etc.

Explique tudo isso antes de sair, sem o capacete e sem pressa.

Seja amável com ela e certifique-se que ela entendeu as suas explicações.

Uma vez que vocês estejam prontos, enquanto a moto esquenta o motor, verifique se seu capacete está bem colocado e que a jugular está bem fixa mas sem apertar, o colarinho do casaco fechado, luvas ajustadas, a calça cobrindo as botas e as mangas bem ajustadas para evitar a entrada de frio.

Lembre-se que sua parceira está mais exposta ao frio e à chuva do que você e precisa ser protegida não só contra esses elementos mas também no eventual caso de uma queda. ( Não gosto de falar disso mas é sempre uma possibilidade).

No caso de uma garupa de “primeira viagem”, faça um esforço para nos primeiros minutos assegurar uma conduta suave, sem acelerações bruscas e mais lentamente do que de hábito para você.
Um bom motociclista saberá dar confiança a seu passageiro e seguramente não conduzirá a moto da mesma forma que quando está em solo.

O passageiro, ou a passageira, deverá poder se manter na moto sómente apoiada por suas pernas, sem ter que se segurar no apoio lateral ou no piloto.

Um bom e simples teste para isso é que o garupa possa se levantar um pouco da sela, descolando o traseiro, sem usar suas mãos. Faça esse teste com ela.

Um dos melhores exemplos de trabalho em conjunto entre piloto e passageira que vi na minha vida foi em uma viagem que fiz ao Marrocos em 2007 e que incluía um tour pelo Sahara. (Já no site Rotaway)
Visitaríamos Merzuga, umas dunas magníficas na entrada do grande deserto onde nos hospedaríamos em um campo Berbér e teríamos que pilotar por 60 km fora de estrada. Precisaríamos pilotar em pé para poder baixar o centro de gravidade da moto e ter mais estabilidade, sobretudo, porque viajávamos com motos muito carregadas.

Eu estava viajando em solo mas um amigo e grande parceiro de viagens, Cláudio Giacosa, um bravo italiano, viajava com sua esposa em uma GSA.

Cláudio e sua mulher fizeram os 60 km em pé nos estribos, ambos, em uma perfeita sincronização naquele terreno traiçoeiro entre poeira e areia.

Ela, em pé, segurava firmemente o cinto de seu marido enquanto pilotavam com destreza e segurança através do Sahara.

Devemos levar em conta que a moto muda de atitude quando temos o passageiro e o extraordinário prazer de rodar a dois exige alguns ajustes na motocicleta, como a pressão dos pneus ou a regulagem da suspensão.

Você deverá ajustar as suas distâncias de aceleração e frenagem ou mesmo, o tempo de ultrapassagem que já não será mais o mesmo.

Sua passageira, em suma, deverá estar confortável e a melhor maneira de chegar a isso cabe a cada um de nós descobrir.

O que eu sei é que, compartir a maior parte de minhas viagens com minha companheira de toda a vida, acrescentou algo misterioso e importante em nossa relação:

A cumplicidade. Somos culpados de muitos quilômetros juntos.
Boa estrada e grandes viagens a dois para vocês.

Ricardo Lugris
França, 16 de Novembro de 2010
Fale com Ricardo Lugris
ricardolugris@rotaway.com.br
http://www.rotaway.com.br


A ARTE DE VIAJAR JUNTO
Tito Rosemberg

(texto originalmente publicado em www.ziptravel.com.br)

Segundo a Royal Geographic Society, da Inglaterra, que acompanha a maioria das expedições oficialmente organizadas, 65% delas fracassam por culpa exclusiva de conflitos entre os membros.

E quem já viajou muito sabe que não é difícil entender esta estatística.

Se o casamento já é um enorme teste da capacidade de tolerância e compreensão entre os participantes, imagine duas ou mais pessoas tendo que suportar juntos os desafios normais de uma viagem tais como traslados, hospedagem e decisões cruciais como, por exemplo, se vocês passam o dia na praia ou visitando museus.

Escolher seu/sua companheiro (a) de viagem é uma arte na qual poucos conseguem tornar-se mestres.

Podemos até pensar que aquelas pessoas que conhecemos há muito tempo são previsíveis, mas quando sob a pressão do estresse da viagem, muitos amigos de longa data tornam-se verdadeiros estranhos.

Há muitos anos atrás, no coração do deserto do Sahara, pude comprovar que a famosa "Lei de Murphy" nunca deve ser desprezada.

Durante a expedição com 3 jipes trazidos do Brasil, dois amigos com quem eu já havia feito pequenas viagens e que pensava conhecer bem, tornaram-se uma grande dor de cabeça, imprudentes, apressados e arrogantes, e nossa amizade acabou.

Por outro lado, uma pessoa que conheci apenas uma semana antes do embarque, e sobre a qual não conhecia nada, acabou sendo um excelente co-piloto e amigo até hoje, provando que experiências anteriores não contam quando escolhendo um parceiro para viajar junto.

Mas então o que conta?

Para começar é preciso que as duas (ou mais) pessoas que pensem em partir numa viagem tenham os mesmos interesses.

O potencial para conflito cresce quando você quer passar o belo dia ensolarado caminhando pelas ruas de uma cidade nova, sentindo suas energias particulares e comendo acepipes misteriosos, e seu companheiro de viagem prefere passar o dia dentro de um museu escuro e comer num "nefast food".

E se viajamos com a pessoa amada, aí até acusações de "traição" podem chegar a ser ventiladas.

Um viajante intrépido, que prefere suar numa trilha pelo meio da floresta, deve evitar viajar com uma pessoa excessivamente apegada aos ambientes urbanos, teatros, gastronomia sofisticada, etc.

Personalidades hippies e mauricinhos dificilmente conseguem viajar juntos muitos dias sem os ânimos ficarem exaltados.

Um cara calmo e introspectivo será provavelmente uma péssima companhia para um fanático por futebol ou carnavalesco inveterado.

O apressadinho nunca poderia viajar com uma pessoa meticulosa no conhecimento do local visitado.

Outro fator que pode azedar as relações entre amigos viajando juntos, é uma significante diferença econômica entre eles.

Imagine você, com a grana apertada, querendo ir acampar baratinho entre as palmeiras de um oásis, junto aos aventureiros do mundo todo, cheios de histórias interessantes para contar, ao lado de uma fonte de água quente e sob o belo céu estrelado, e seu companheiro de viagem, um ricaço, insistir no banho quente do hotel da cadeia internacional, cheio de turistas simplórios e a um preço vinte vezes mais caro.

Ou então você prefere enfrentar a colorida e cheirosa viagem entre as ruínas de Tikal e a capital da Guatemala em 20 horas num decrépito ônibus local e sua namorada insiste no asséptico avião que leva apenas uma hora, mas onde não se aprende nada e custa cem vezes mais do que a passagem do ônibus.

Nunca minimize a possibilidade de aquele amigão tornar-se um feroz inimigo quando você prefere fazer coisas diferentes durante a viagem.

Por isso é aconselhável discutir bastante os objetivos da viagem (aventura ou descanso?), o estilo (econômico ou luxo?), o ritmo (lento ou rápido?), e o destino (grandes centros ou pequenas aldeias?), ANTES de partir!

Assim você diminuirá, ainda que não eliminando por completo, os conflitos durante sua viagem, evitando perder seus amigos e pessoas amadas, e estragar aquele projeto que você levou anos para conseguir realizar.


Artigo da Exame: Carpe Diem

Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim. Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos. Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali. Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim.

Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo. Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.

Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis. Não deixe nada para depois. Diga o que tem para dizer. Demonstre. Seja você mesmo. Não guarde lixo dentro de casa. Não cultive amarguras e sofrimentos. Prefira o sorriso. Dê risada de tudo, de si mesmo. Não adie alegrias nem contentamentos nem sabores bons. Seja feliz. Hoje. Amanhã é uma ilusão. Ontem é uma lembrança. No fundo, só existe o hoje.

 

HISTÓRIA SOBRE NÓS, MOTOCICLISTAS.

Há algum tempo atrás um pai me disse que gastou muito tempo falando de histórias sobre nós, motociclistas, mas, para ser honesto, eu nunca prestei muita atenção. Então, como ele era muito cabeça dura, ele me fez conhecer todos tipos de motociclistas, um por um: .... “vestindo aquelas roupas, aqueles capacetes coloridos, vocês pareciam realmente durões” disse.

Mas uma vez que as viseiras e óculos eram levantados, todos tinham olhos bonitos, limpos e cheios de vida; olhos onde você poderia se perder neles, chegar em suas almas e ver quão pura elas são.

Tirando suas roupas especiais, e, no final do dia, você veria que eles cresceram... . como crianças, nada mais que isso.
Eles gostam da vida, carnes, cerveja e "tira gosto" (pra não escrever lingüiça ou salsicha) e ainda procurando pela mãe, quando as coisas dão errado. Tem gente que diz que quando montamos em nossas motos, anjos e demônios vão conosco!

Pode ser até verdade, é um tipo de dualismo que faz esse estilo de vida ser tão rico em emoções, que fazem seu coração bater mais rápido, parecendo que vai sair pelo peito a qualquer momento.

Demônios fazem você acelerar, irracionais e violentas aceleradas, na hora que a adrenalina corre direto para seu cérebro e você fica tremendo por vários minutos. Anjos que carregam com eles a face a as vozes de quem não está mais conosco; vozes da experiência por vezes forjada situações desagradáveis.

Sim, é verdade que você pode até morrer pilotando uma moto; isso pode acontecer com qualquer um de nós.... isso machuca... REALMENTE MACHUCA. Mas nada se compara à quantidade e qualidade de vida que torna isso em lembranças fantásticas, em "flashes" que duram uma eternidade de lembranças, aquelas risadas altas e profundas que vêm do coração, tão altas que fazem a gente ver o sol brilhar num dia nublado.

Converse com qualquer um de nós, peça-nos para dizer sobre uma história de nossos últimos "passeios", alguma curva da estrada de sua montanha preferida e você se perderá naqueles olhos sorridentes, naquele sorriso natural que gradualmente se espalha pelo rosto inteiro. Converse com qualquer um de nós, pergunte como a vida seria se algum dia tivéssemos de desistir de nossa paixão e, tudo que você irá escutar é o som do silêncio, você verá que aquele rosto sorridente do "garoto" ficará vazio como um pássaro com a asa quebrada.

Sim, você pode machucar-se fisicamente, mas acredite, não há melhor jeito de se viver o pouco tempo que nos é dado! E se você não entendeu nada até agora, não se preocupe, você nunca entenderá! Mas se um dia você estiver na estrada, na segurança de seu carro, e UM DE NOS passar vagarosamente, você verá que seu filho, sentado no banco de trás, de repente virar a cabeça, acenando empolgado, não tente entender seu filho também.
Seu filho, com toda sua inocência, vê em nós uma centelha de algo que você nunca reparou!

E o motociclista acenará também, não há nada de errado e você sabe que...

Anjos na terra se cumprimentam!

MOTOCICLISTAS, UM BANDO DE GRANDES E ESTRANHOS CARAS FELIZES EM SEREM MOTOCICLISTAS!

Auto desconhecido recebido por e-mail

 

O ÚLTIMO DESEJO DE UM HARLEYRO

Claude Pasteur Faria

Abro meu e-mail nesta manhã de 19 de março e deparo com várias
mensagens de colegas legendários (membros do MC Legends Never Die, ao
qual pertenço), informando-me do falecimento de Eduardo Lima, promotor
de justiça, motociclista e harleyro, membro do nosso grupo. Jovem, pouco
mais de quarenta anos, não resistiu a um câncer de pâncreas contra o qual
vinha lutando há cerca de dois anos.
Durante o velório, enquanto os amigos lhe prestávamos uma última
homenagem, lembrei-me de um fato pitoresco envolvendo a mim e ao
Eduardo, que me marcou muito pelo inusitado da situação.
Era uma manhã de domingo, primavera de 2006, sol a pino mas bastante
agradável. Tirei minha Road King da garagem e me dirigi à Lagoa da
Conceição, esperando me “encostar” num barzinho qualquer para aproveitar o
dia. Logo após a descida do morro, avistei uma operação da Polícia Militar.
Diminui a velocidade. Um policial à beira do asfalto me fez um sinal para
que eu parasse a moto, o que fiz de imediato. Nesse momento, percebi que
uma outra motocicleta, uma Ultra Classic preta, afastava-se do local com
duas pessoas a bordo.
Aproximando-se da minha moto, a autoridade policial apontou para o
meu capacete e disse: - Esse tipo de capacete é proibido, por favor desça da
moto! Eu estava usando um famigerado “coquinho”, logo percebi que iria me
incomodar. Atendi ao comando do policial, desliguei a moto, “descansei-a”
e saltei. Meus documentos foram socicitados.
- Este capacete está fora das especificações do INMETRO, o senhor
vai ser multado e sua moto apreendida. Se quiser, pode chamar alguém
habilitado para levá-la embora.
Tentei argumentar. Nessas horas deve-se manter a calma, para evitar,
além de receber a multa, responder por crime de desacato. Meus argumentos
não convenceram. Pedi então para falar com o superior dele, responsável pela
operação. O policial me indicou um jovem tenente que se encontrava próximo a
uma das viaturas. Dirigi-me a ele e repeti meus argumentos, aos quais ele
prestou muita atenção.
- Vou lhe confessar uma coisa, disse-me o tenente, mostrando muita
paciência. – Na verdade, nós não iríamos multar ninguém hoje por conta
d0 uso desse tipo de capacete, nosso objetivo era apenas conscientizar os
motociclistas. Mas, infelizmente, paramos ainda há pouco um promotor
de justiça, pelo mesmo motivo. Ele perdeu a paciência e nos deu um “carteiraço”.
Tivemos que multá-lo e apreender a moto. Ao se retirar, ele nos disse que,
como nós o havíamos multado por usar um “coquinho”, todo motociclista que
passasse por ali daquele momento em diante teria que ser multado também,
caso contrário ele nos representaria por prevaricação. O senhor teve o azar de
ser o próximo a passar por aqui, e nós vamos ter que multá-lo!
Perguntei ao tenente como era o nome do promotor encrenqueiro (na
hora, pensei em outro adjetivo) que havia ajudado a estragar meu fim de
semana. Olhando no bloco de notificações, ele me respondeu: - Eduardo Lima.
Imediatamente lembrei da Ultra preta que estava indo embora no momento
em que fui parado na “blitz”. Perdoei meu amigo legendário e encrenqueiro.
Ambos interpusemos recursos administrativos contra a autuação.
Alguns meses depois, o Eduardo me ligou. – Qual foi o resultado do teu recurso?
Respondi-lhe que havia sido provido, com a conseqüente anulação da
autuação. Após escutar alguns segundos de imprecações diversas ao telefone
celular, fiquei sabendo que o dele fora improvido. Dei uma sonora gargalhada.
O recurso de um engenheiro havia obtido sucesso, o de um promotor
publico, não. Durante muito tempo isso foi motivo de gozação entre nós.
Durante o velório, um dos presentes contou-nos, a mim e ao Benetton,
um episódio comovente ocorrido dois dias antes do seu falecimento. Estando
bastante debilitado, sem poder levantar-se da cama, Eduardo pediu a
um amigo que fosse à garagem e ligasse sua Ultra. Queria, provavelmente pela
última vez, escutar seu ronco, já que não podia despedir-se dela pessoalmente.
Sua vontade foi feita. Tenho certeza de que a “música” do V-twin o fez sair
desta vida muito mais feliz.


(março/2010).